Nascido provavelmente em Roma, de pais de origem toscana, Leão foi elevado ao sólio pontifício em 440. No seu longo pontificado realizou a unidade da Igreja, impedindo usurpações de jurisdição pelo patriarcado de Constantinopla e vicariato de Arles.
Combateu as heresias dos pelagianos, dos maniqueus, dos
nestorianos e sobretudo dos monofisitas, com a célebre Carta dogmática
endereçada ao patriarca Flaviano de Constantinopla, na qual expõe a doutrina
católica das duas naturezas de Cristo em uma só pessoa. A carta, lida pelos
legados romanos na assembléia conciliar de Calcedônia (451), forneceu o sentido
e as próprias fórmulas da definição dogmática e marcou época na teologia
católica.
Mas não só por esse ato solene Leão teve — o primeiro entre
os papas — o título de Magno e, em 1754, o de doutor da Igreja. Ele tinha uma
idéia altíssima da própria função. Encarnava a dignidade, o poder e a
solicitude do príncipe dos apóstolos.
Os seus 96 sermões e as 173 cartas chegadas até nós
mostram-nos um papa paternalmente dedicado ao bem espiritual dos fiéis, aos
quais se dirige com uma linguagem sóbria e eficaz. Mesmo não se detendo nos
particulares de uma questão doutrinária, expõe os conteúdos dogmáticos dela com
clareza e precisão, e ao mesmo tempo com um estilo culto e atento a certa
cadência, que torna agradável a sua leitura.
O seu pontificado corresponde a um dos períodos mais
atormentados da história; assim, ao cuidado espiritual dos fiéis uniu-se uma
solicitude pela salvação de Roma. Quando, na primavera de 452, os hunos
transpuseram os Alpes, Valentiniano III, refugiado em Roma, não encontrou outra
solução senão rogar ao papa que fosse ao encontro de Átila, acampado perto de
Mântua.
Leão foi até ali e convenceu o feroz guerreiro a retirar-se
para a outra margem do Danúbio. A lenda conta que Átila viu no céu os apóstolos
Pedro e Paulo com as espadas desembainhadas em defesa do pontífice. Este
repetiu a mesma tentativa três anos depois com o bárbaro Genserico, mas com
menos sucesso. Os vândalos, oriundos da África, aportaram na Itália e
adentraram a Cidade Eterna. O papa foi o único a defendê-la e conseguiu que
Genserico não a incendiasse nem matasse os habitantes. Em 14 dias de ocupação
contentou-se em saqueá-la. A história da arte é-lhe grata.
Fonte: Paulinas