Romano de Trastevere (está sepultado com efeito na igreja de Santa Maria, em Trastevere, e não nas catacumbas que levam seu nome), filho de escravos, Calisto não teve vida fácil.
O cristão Carpóforo, da família do imperador Cômodo,
havia-lhe confiado a administração dos bens da comunidade cristã. Não foi um
hábil administrador e, descoberto um grande desfalque, Calisto fugiu.
Capturado em Óstia, a ponto de zarpar, foi condenado a girar
a roda de um moinho. Carpóforo mostrou-se generoso, condenando-o a pagar o
débito; mas a justiça seguiu seu curso. Foi condenado à flagelação, depois
deportado para as minas da Sardenha.
Libertado, o papa Vítor ocupou-se pessoalmente dele — sinal
de que Calisto desfrutava certa fama, furto à parte. Para desviá-lo da
tentação, fixou-lhe um ordenado. O sucessor Zeferino foi igualmente generoso:
ordenou-o diácono e confiou-lhe a guarda do cemitério cristão na via Ápia
Antiga (as célebres catacumbas conhecidas em todo o mundo com seu nome).
Numa área de 400 por 300 metros, em quatro pavimentos
sobrepostos, com 20 quilômetros de corredores, estão guardados os corpos de
numerosos cristãos, de santa Cecília a são Fabiano.
Quando em 217 o diácono Calisto foi eleito papa, explodiu a
primeira rebelião aberta de um grupo de cristãos “rigoristas”, por causa não só
das precedentes e bem notórias desventuras de Calisto, mas sobretudo em virtude
de sua atitude conciliadora para com os pecadores arrependidos — ou melhor,
para com aqueles cristãos pouco dispostos ao martírio, que se tinham munido do
libellum de fidelidade aos deuses de Roma, e que, uma vez passada a tempestade,
pediam para voltar ao redil.
Entre os rigoristas, hostis ao novo papa, destacavam-se
Tertuliano, Novaciano e o sanguíneo Hipólito que, com seus Philosophumena,
atacou violentamente Calisto, depois conseguiu fazer-se consagrar bispo;
posteriormente um grupo de padres romanos dissidentes elegeram-no papa.
Foi o primeiro anti papa da história e é, caso único, também
santo, graças a seu arrependimento e ao martírio sofrido em 235 na Sardenha.
Também Calisto parece ter sofrido o martírio, não pela mão do imperador romano,
mas durante uma convulsão em Todi. Os cristãos, não conseguindo chegar até as catacumbas
da Ápia Antiga, sepultaram-no na via Aurélia; desta, Gregório III o transferiu
para a basílica de Santa Maria, em Trastevere.
Fonte: Paulinas
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